Por Rony Curvelo
Durante a presidência de Juscelino Kubistchek o brasileiro sentiu euforia e esperança, especialmente depois de muitos anos de problemas com os governos anteriores. Nos anos seguintes caímos na realidade e a desgraça atingiu, mais uma vez, o país. No lado político, os problemas foram ocasionados pela ameaça terrorista, que o comunismo representa com idéias totalitaristas, quando tentaram impor ao Brasil um novo e maligno sistema de governo, o que deu motivos para as forças armadas, sair em defesa do regime vigente.
Com a forte reação dos militares, nossa economia que estava cambaleando já há alguns anos, acabou por derrotar nosso desejo de dias melhores e esperança no futuro. Foi tudo por água abaixo.
Com a chegada do governo militar, acabamos vivendo anos de ditadura de direita. Livramo-nos do que poderia ter sido a ditadura de esquerda e ficamos presos ao mesmo mal, só que da direita.
No governo militar do presidente Ernesto Geisel, o milagre econômico ressurgiu, representado pelo orgulho do petróleo e o re-inicio de muitas obras, em grande parte graças ao investimento externo que gerou o endividamento do país em grande escala. O povo, mais uma vez, animou-se. Os investimentos estavam a todo vapor, mas a alegria demorou pouco.
Nos anos seguintes a inflação tomou conta do país, culminando com a vergonhosa declaração de moratória internacional, quando o presidente Sarney mandou avisar ao mundo que não pagaria aos credores. O mundo fechou todas as portas para o Brasil. Outra vez, nossa esperança foi-se.
Qual a relação dos dois momentos aqui mencionados e os dias atuais? Quais os erros do passado que agora vejo repetir-se?
A falta de preparação durante as fases favoráveis para enfrentar os momentos difíceis.
É regra. Nas fases de fartura e bonança devemos preparar-nos para os eventuais problemas que as fases desfavoráveis nos trazem. No entanto, o comportamento político do momento não indica que estamos no caminho certo.
Vivemos uma fantasia e que a grande maioria do povo brasileiro não sabe que existe e não consegue enxergar.
Definitivamente há algo profundamente errado nas contas do Estado brasileiro. É certo e sabido que vivemos num estado patrimonialista, em parte razão de todo o risco econômico. A situação se agrava e corremos o risco de ver, num futuro próximo, mais uma vez, o gigante voltar a dormir em berço esplêndido.
Apresentamos os mesmos sinais e características dos Estados Unidos antes da crise de 2008. Conhecemos os erros, por que não evitá-los?
No passado a poupança era o xodó dos brasileiros, hoje nem tanto, apesar de ter sido sempre deficitária. Acontece que no passado era mais um fato negativo entre tantos, hoje é particularmente negativo e preocupante.
O Brasil é o país de menor poupança interna do mundo. A poupança está negativa (-1.5% do PIB). Numa linguagem mais clara: A poupança é negativa por que para comprar bens e serviços, o brasileiro gasta e compromete os salários futuros.
Todas as vezes que você compra a prazo, no cheque ou no cartão, você colabora para negativar a poupança.
A única poupança que cresce, e muito, é a externa, que custa muito caro ao país.
A poupança externa é o dinheiro de outros povos, de outros países e que usamos aqui, pagando juros maiores do que pagamos aos poupadores brasileiros. Esta poupança corresponde a 2,5% do PIB e o máximo recomendável é 3%.
O crescimento econômico será maior quanto maior for a taxa de poupança e investimento, porém corremos o risco de ver este dinheiro que vem de fora e que deveria ser usado apenas para investimento no desenvolvimento, ser usado para aumentar a divida individual e para o consumo. É óbvio que isto é uma bola de neve com proporções catastróficas. O certo seria o governo controlar-se e com responsabilidade usá-lo na forma de investimentos para promover o desenvolvimento.
A taxa de crescimento se mede pelo investimento e não pelo gasto.
Já os empresários, que fecham os olhos para a poupança negativa, continuam calados. Não se pode pensar em promover o consumo comprometendo a renda futura. Uma sugestão ao mercado é acabar com as prestações a prazo e fazer o layaway. Sistema onde você paga antecipado todos os meses e ao completar o pagamento, leva o bem ou o serviço.
A POLÍTICA DOS IMPOSTOS
Para cada R$100,00 que ganhamos R$ 36,00 (36%) se vão de impostos para os cofres do governo federal para poder fazer as suas farras, gastos e uns poucos investimentos. Por outro lado e somado a arrecadação dos nossos proventos, tem o déficit nominal: O governo gasta o correspondente a 2% do PIB a mais do que arrecada.
Portanto, somados os 36% dos nossos salários + 2% a mais que é usado, são 38% do PIB que é administrado pelo governo brasileiro.
Mas para que reclamar se somos parte do problema e coniventes com ele? Vejam por que:
50 MILHÕES DE CHEQUES
Não só coniventes, somos co-participes deste crime econômico financeiro, pois sem saber nos calamos diante de um verdadeiro descalabro. A impressão é que temos um pacto de silencio político econômico, uma vez que aproximadamente 150 milhões de brasileiros vivem direta e indiretamente de 50 milhões de cheques emitidos mensalmente pelo governo para pagar aos seus funcionários (200 bilhões= 33% do PIB) e os pensionistas, aposentados, participantes do bolsa família, inativos, os que estão assegurados pelo seguro desemprego e os pobres, deficientes, idosos que participam de vários programas sociais do governo, num total de 90 bilhões de reais (15% do PIB).
Esta carga social que corresponde a 15% do PIB, é um fardo social que o governo nos impôs. É certo do mérito de ajudar aos mais necessitados, mas a forma ideológica e até irresponsável dos anos Lula, põe em risco uma nação inteira que deverá pagar um preço alto no futuro, sem garantir aos que se beneficiam a continuidade da ajuda.
Pagamos 36% de tributos ao governo e mantemos 150 milhões de pessoas. Temos, portanto uma renda financiada por impostos.
Dentre os 50 milhões de pessoas restantes que não dependem destes programas, grande parte vive de empréstimos do Estado. Já o empresariado tem subsídios, financiamentos e favorecimentos, tirando destes empresários o poder de critica e tornando-os cada vez mais dependentes, coniventes e silenciosos, medrosos de perder o apoio do governo, em especial seu braço financeiro o BNDES.
Dos 38% o governo nos devolve em serviços apenas 2%.
GASTOS E INVESTIMENTOS
O PIB é a soma do consumo, dos investimentos realizados, dos gastos do governo, do volume de exportações, deduzindo o volume de importados.
O governo gasta, em alguns casos e investe, em outros, assim:
15% (R$ 90 bilhões)-Aposentadoria e pensões, sendo que apenas 4% (R$ 36 bilhões) vêm da arrecadação dos ativos e os restantes 9% (R$ 54 bilhões) saem do tesouro. Quer dizer que a aposentadoria e pensões dos inativos, não são pagas pelos que estão ativos. O governo tem tirar de outras áreas para cumprir a diferença.
4.5% (R$ 27 bilhões) Educação
7.5% (R$ 45 bilhões) Saúde
7% (R$ 42 bilhões) Juros da divida pública
4.25% (R$ 25 bilhões) Amortização da divida
1.75% (R$ 9 bilhões) Investimentos e manutenção da infra- estrutura, segurança, agricultura, ciência e tecnologia.
33% (R$ 200 bilhões) Pagamento ao funcionalismo público.
Apenas para fechar a conta com os 100%, incluo os 29% restantes (R$ 174 bilhões) que é o valor aproximado das exportações.
A critério de referência, os Estados Unidos gasta, depois da crise, apenas 3% do PIB , antes porém, o gasto americano era de 15% do PIB. Mas o Brasil sem preocupar-se com o futuro gasta 48%. Será que agüentamos?
E quais os principais problemas?
Problemas 1: Previdência
O Brasil paga a mais generosa pensão do mundo, que segundo a constituição não pode ser inferior a um salário mínimo.
O Brasil arrecada 30% do que se paga a previdência, logo 70% do valor sai do tesouro. Portanto a previdência é negativa. O Brasil gasta o dobro para cobrir o déficit da previdência, do que investe com toda a Educação.
Pela ação do governo, três milhões de inativos e pensionistas, são mais importantes do que quase 40 milhões de crianças que freqüentam a escola.
Problema 2: Funcionalismo público
Nos primeiros anos do governo Lula, foi feito uma pequena reforma da previdência que chegou a proibir os novos ingressantes que já fossem contratados como celetistas, mas como até hoje não foi regulamentado, continuam como estatutários.
Os funcionários Celetistas têm contrato de trabalho. O custo deste funcionário é infinitivamente menor do que o Estatutário.
O Estatutário é definido por um conjunto de regras que regulam a relação funcional entre o servidor e o Estado. Esse regime outorga aos servidores públicos um conjunto de proteções e garantias específicas para o exercício da função pública. Entre elas, a estabilidade após três anos de exercício.
Problema 3: Os desvios, leia-se roubo.
Para este tópico prefiro não comentar. Sugiro que leiam os jornais para histórias atualizadas.
O que consegue em grande parte manter todos estes gastos e investimentos é a enorme carga tributária que sai dos nossos bolsos.
As commodities, por outro estão valorizadas, mas vão acabar ou diminuir de forma considerável num futuro próximo. E é ai que o perigo nos ameaça.
Já o governo que tem se mostrado incompetente na criação da infra estrutura, não quer diminuir os impostos e ainda por cima, mais uma vez ataca o povo, que será o único prejudicado, ao querer desvalorizar o real em relação ao dólar. E não me venham com a hipocrisia de dizer: “Mas o pobre não tem dólar”. O pobre compra produtos importados é só ir à Rua 25 de Março, aqui em SP e lá vai encontrar produtos a partir de 0,50 centavos de real que vem de algum lugar fora do Brasil.
Portanto, TODOS nós sairemos prejudicados com a desvalorização do real.
Sobra apenas uma saída: O círculo vicioso do pagar imposto e torcer para ser um dos 150 milhões que se beneficia com um dos 50 milhões de cheques que o governo emite. Boa sorte!
* Horacius Flacus - poeta romano
Tradução: “....não confio no futuro”